quinta-feira, 16 de junho de 2011
Interação entre nutrientes pelo uso excessivo de fertilizantes
Muitos agricultores e mesmo técnicos cometem um erro perigoso na adubação de culturas agrícolas, principalmente hortaliças - confundir uma cultura bem nutrida com uma cultura nutrida em excesso. O uso excessivo de fertilizantes, sem levar em consideração o que está disponível no solo e o que a cultura realmente necessita, tem se tornado um problema recorrente e danoso em cultivos olerícolas, inclusive de tomate, em todas as regiões do Brasil. Esse problema é ainda mais grave no cultivo protegido em solo, porque não há entrada da água da chuva para lavar o excesso de nutrientes, como pode acontecer em campo aberto.
Pelas produções mais altas de biomassa comercializável, as necessidades de nutrientes pelas hortaliças são reconhecidamente mais altas. Obviamente a aplicação de fertilizantes em uma cultura que produzirá 100t/ha deverá ser mais alta do que em uma espécie que produz 5t/ha. Deve estar muito claro, tanto para produtores quanto para técnicos, que a adubação de qualquer cultura deve ser feita criteriosamente, sob o risco de se perder dinheiro e poluir solo e água.
Qualquer recomendação de adubação ou de aplicação de corretivos deve ser feita com base em uma análise química do solo, a qual informa ao técnico a quantidade de nutrientes que o solo oferece. Se esta quantidade for menor do que a necessidade da cultura, faz-se o uso de fertilizantes. Os problemas começam a aparecer quando, apesar de o solo ter a quantidade necessária de nutrientes para as plantas, insiste-se em aplicar adubo. A aplicação de fertilizantes sem levar em conta os resultados da análise de solo e a real necessidade da cultura é mera adivinhação e uma prática impensável na agricultura moderna.
O uso excessivo de fertilizantes não é danoso apenas devido aos problemas ambientais e de perda de dinheiro. Da mesma forma que ocorre em seres humanos, o excesso de nutrientes é danoso à saúde das plantas e pode comprometer a produção da mesma forma que a falta de nutrientes. Muitos dos elementos químicos essenciais para as plantas são absorvidos na forma de íons, ou seja, na forma de elementos químicos com carga elétrica. Aqueles com carga elétrica negativa são chamados ânions, os que possuem carga positiva são os cátions. No interior das células, que é para onde vão os nutrientes, deve ser mantido um equilíbrio eletroquímico, ou seja, um equilíbrio entre a concentração de ânions e cátions.
Existem interações, sinergísticas e antagônicas, entre alguns nutrientes. Nas interações sinergísticas, a absorção de determinado elemento pode favorecer a absorção de outro, como tem sido observado entre K+ e Cl- em algumas espécies. Por outro lado, nas interações antagônica, a absorção de determinada forma de um nutriente pode dificultar a absorção de algum outro nutriente. Muito conhecida entre os técnicos que lidam com tomate é a interação antagônica que existe entre a forma amoniacal do nitrogênio (NH4+) e o cálcio (Ca2+). Como se pode observar, ambas as formas são catiônicas.
Em geral, o uso exclusivo ou excessivo da forma amoniacal de nitrogênio leva ao surgimento de sintomas de deficiência em cálcio, como a podridão apical dos frutos (fundo preto). Apesar de o cálcio estar presente no solo em formas disponíveis, a planta não o aproveita porque a célula necessita manter o equilíbrio eletroquímico - o excesso de um determinado cátion impede a absorção (ou causa a saída) de outro cátion. Por outro lado, a aplicação demasiada de formas nítricas de nitrogênio (NO3-), além de poder afetar a absorção de outros nutrientes na forma aniônica, pode levar à elevação excessiva do pH do solo, afetando negativamente a absorção de micronutrientes metálicos, como ferro, cobre, zinco e níquel, os quais podem se tornar indisponíveis em valores mais altos de pH. As calagens excessivas têm o mesmo efeito.
Outro nutriente que pode afetar a absorção de micronutrientes metálicos, se aplicado em excesso, é o fósforo. Não é raro se observar, no campo, sintomas de deficiência em zinco, apesar da aplicação do nutriente. A análise do solo em geral mostra teores muito altos de fósforo. Neste caso, a interação negativa não se dá pela manutenção do balanço eletroquímico nas células, mas provavelmente pela formação de compostos de baixa solubilidade no solo.
Pelo que foi resumidamente exposto, fica claro que, ao contrário do que se possa pensar, adubações excessivas na verdade podem levar a deficiência de nutrientes devido a interações antagônicas. Da mesma forma que não se concebe um médico receitar um medicamento sem um exame de sangue do paciente, é inconcebível um agrônomo recomendar uma adubação sem uma análise química do solo.
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Análise química do solo,
Manejo da adubação
Cultivo Protegido e o Caribe
Estive esta semana na cidade de Campinas - SP ministrando aulas sobre manejo da fertilidade do solo para produção de hortaliças tanto em cultivo protegido quanto em campo. Apesar da presença de alguns brasileiros, o alvo pricipal do curso eram extensionistas e produtores de diversos países e do Caribe e mesmo alguns da América do Sul continental, como Suriname. Até onde sei, o curso foi financiado pelo PNUD e pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), com apoio da Embrapa.
Um dos pontos que mais chamei a atenção para o grupo foi a importância de basear todo o manejo da nutrição no conhecimento das necessidades nutricionais das espécies olerícolas mas principalmente no conhecimento do que o solo já tem a oferecer em nutrientes, através da análise química do solo. Muitos se surpreenderam pela importância central da análise de solo, entenderam bem os problemas que podem vir da adubação via adivinhação, mas expressaram a preocupação por muitos dos países sequer possuírem laboratórios que façam esse tipo de análise. Em um caso desses, pode-se até entender que se adube de forma empírica. Não é o caso do Brasil, onde se tem abundância de laboratórios e de técnicos.
Outra limitação comum a alguns dos países do Caribe (e sei que a alguns países da África) é a escassez de fertilizantes comerciais. Muitas vezes, o comércio local oferece apenas uma formulação NPK (15-15-15, por exemplo) para toda e qualquer situação. Torna-se muito difícil fazer um manejo racional da adubação sem fontes simples de fertilizantes, como uréia, superfosfato simples, cloreto de potássio e outros. Novamente pude ver que apesar de todas as limitações, o Brasil ainda está muito a frente de muitos países e tem muito a oferecer em termos de conhecimento e tecnologia em agricultura.
O intercâmbio de idéias e experiências com essas pessoas foi muito bom e enriquecedor, acho que para ambos os lados. Pudemos ainda visitar a Hortitec, em Holambra, excelente oportunidade para que pudessem ver o que há de mais moderno em termos de maquinário, insumos e mesmo material genético para a produção hortícola no Brasil.
Um dos pontos que mais chamei a atenção para o grupo foi a importância de basear todo o manejo da nutrição no conhecimento das necessidades nutricionais das espécies olerícolas mas principalmente no conhecimento do que o solo já tem a oferecer em nutrientes, através da análise química do solo. Muitos se surpreenderam pela importância central da análise de solo, entenderam bem os problemas que podem vir da adubação via adivinhação, mas expressaram a preocupação por muitos dos países sequer possuírem laboratórios que façam esse tipo de análise. Em um caso desses, pode-se até entender que se adube de forma empírica. Não é o caso do Brasil, onde se tem abundância de laboratórios e de técnicos.
Outra limitação comum a alguns dos países do Caribe (e sei que a alguns países da África) é a escassez de fertilizantes comerciais. Muitas vezes, o comércio local oferece apenas uma formulação NPK (15-15-15, por exemplo) para toda e qualquer situação. Torna-se muito difícil fazer um manejo racional da adubação sem fontes simples de fertilizantes, como uréia, superfosfato simples, cloreto de potássio e outros. Novamente pude ver que apesar de todas as limitações, o Brasil ainda está muito a frente de muitos países e tem muito a oferecer em termos de conhecimento e tecnologia em agricultura.
O intercâmbio de idéias e experiências com essas pessoas foi muito bom e enriquecedor, acho que para ambos os lados. Pudemos ainda visitar a Hortitec, em Holambra, excelente oportunidade para que pudessem ver o que há de mais moderno em termos de maquinário, insumos e mesmo material genético para a produção hortícola no Brasil.
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